sexta-feira, 26 de junho de 2009

A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DO ENGENHEIRO AGRÔNOMO


A participação de estudantes universitários de agronomia em estágios é velha!
No início da década de 1960 o acadêmico Roberto Cano de Arruda[1], presidente do Centro Acadêmico Luiz de Queiroz[2], convocou os universitários residentes piracicabanos e os com residências em municípios vizinhos para participar de estágio de férias no Ministério da Agricultura, comandado naquela época pelo engenheiro agrônomo esalqueano Renato Costa Lima[3].
A criação de estágios atendia aos reclamos dos estudantes de agronomia por uma formação prática e participativa em fazendas e órgãos de pesquisa.O Ministério da Agricultura organizou os estágios de férias em diversos estados da federação e em estados diferentes da escola de origem dos estudantes.
Os estágios foram realizados em vários estados da federação brasileira do Rio Grande do Sul ao Amazonas (do Oiapoque ao Chuí), do Rio Grande do Norte ao Pará nos diversos órgãos do Ministério da Agricultura, ou seja, nos escritórios e fazendas do Departamento de Produção Vegetal. A ordem para os funcionários era para mostrar aos estagiários as fazendas, os órgãos de fomento e de experimentação do governo.
Uma equipe de cinco estudantes da ESALQ, três da Escola Nacional de Agronomia, dois da Escola de Agronomia do Rio Grande do Norte e um da Escola Nacional de Agronomia do Rio foi designada para estagiar no Departamento de Produção Vegetal[4] no Rio Grande do Sul.
As passagens aéreas foram pagas pelo Ministério da Agricultura e cada estudante estagiário teve uma ajuda de custo de Cr$50,00[5] por mês para as despesas equivalentes.
Após uma viagem de três horas chegamos – eu fazia parte da equipe - a Porto Alegre e fomos recebidos pelo agrônomo chefe do DFA. Depois conhecemos as instalações do Departamento e fomos instalados na Casa do estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Em Porto Alegre nós os estagiários conhecemos a Sanrig (Sociedade Anônima Riograndense), que na época produzia a única margarina e óleo de soja sem cheiro e sem gosto de “ peixe”, diferente de outras marcas existentes no mercado de São Paulo.
Após esta visita fomos conhecer a primeira experiência de reforma agrária do Rio Grande do Sul instituída pelo Instituto de Reforma Agrário do Rio Grande do Sul (na época era governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizolla): o Núcleo de Reforma Agrária do Banhado do Colégio, onde conhecemos os primeiros “colonos” e suas casas e um dos armazéns comunitários.
Na semana seguinte fomos conhecer o Irga (Instituto Sul Riograndense de Arroz) em Viamão, onde conhecemos variedades de arroz irrigados por inundação e que produziam mais de 10.000 quilos por hectare além de serem resistentes ao “bruzonne” principal doença do arroz. Em todas as visitas técnicas o engenheiro agrônomo do Ministério da Agricultura nos acompanhava e nos levava em veículo oficial.
De Porto Alegre nos dirigimos de ônibus para o Posto Agropecuário de Carazinho, localizado na região de Passo Fundo, e fomos recebidos pelo chefe do PAP (Posto Agropecuário de Carazinho) e instalados num alojamento.
Na fazenda localizada a 5 km de Carazinho e perto de Não Me Toque, havia além dos alojamentos, o refeitório, a casa do engenheiro agrônomo, casas de funcionários, oficinas, depósitos de máquinas e equipamentos de uma fazenda modelo de 300 hectares. O Posto Agropecuário era todo conservado com terraços de base larga, onde se colhia e se plantava. O agrônomo chefe cultivava para a manutenção da fazenda leguminosas forrageiras, sementes do capim “pensacola Bahia Grass”, sementes de alfafa, soja e trigo.
No início da instalação da Fazenda do PAP, entre 1955 e 1960, os funcionários demarcavam os níveis e construíam os terraços de base larga nas fazendas de soja e trigo do Posto e nas fazendas de municípios vizinhos e entre eles Não me Toque, usando as máquinas do Posto Agropecuário.
Naquela época víamos à noite, através das janelas do alojamento, os faróis de colheitadeiras automotrizes colhendo soja, bem como os tratores arando as terras para plantar trigo. Naquele tempo ainda não havia o plantio direto que hoje é comum naqueles municípios.
Nas visitas às fazendas vizinhas ao PAP de Carazinho e nos municípios vizinhos pudemos constatar que o Posto Agropecuário foi exemplo e participou da criação da conservação do solo dessas fazendas através da demonstração de resultados.
Realmente o estágio de férias pioneiramente realizado pelos estudantes de agronomia do Brasil foi essencial para se pensar nos estágios de estudantes de agronomia(e veterinária) como necessários para a formação dos profissionais ligados à terra, bem como de todos os estudantes universitários
Notas
[1] Roberto Cano de Arruda, que ocupou o cargo de presidente do Calq por duas gestões, 1960/1961 e 1962/1963.
[2] Localizava-se na sua nova sede, na Rua Voluntários de Piracicaba
[3]Costa Lima “Em julho de 1962, durante o período parlamentarista do governo de João Goulart (1961-1964), foi nomeado ministro da Agricultura pelo primeiro-ministro Francisco de Paula Brochado da Rocha, o qual renunciou em 14 de setembro desse mesmo ano. Costa Lima, entretanto, permaneceu em seu cargo compondo o gabinete de Hermes Lima, escolhido primeiro-ministro quatro dias depois. Depois do plebiscito que restabeleceu o presidencialismo (6/1/1963), Goulart recompôs seu ministério no final de janeiro, quando Costa Lima deixou a pasta. Durante sua gestão, criou a Superintendência Nacional do Abastecimento (Sunab), a Companhia Brasileira de Armazenamento (Cibrazem) e a Companhia Brasileira de Alimentos (Cobal).” Fonte: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jgoulart/htm/biografias/Renato_da_Costa_Lima.asp
[4]Departamento de Produção Vegetal. http://www.saa.rs.gov.br/portal/html/saa_depto_02.htm acesso em julho de 2009.
[5] O equivalente a aproximadamente a dois salários mínimos da época.